- Bruno Alves Pinto

- 21 de out.
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Primeira Parte
Saudades
O poema abre com uma epígrafe de Carlos Ferreira que associa tristeza e saudade a um “canto eterno” e, em seguida, a voz lírica recorda com nitidez a infância venturosa: os “formosos lares”, os vales perfumados, a sombra dos palmares e as tardes balsâmicas de setembro em que o sol se despedia através das névoas do ocidente. As memórias são sensoriais e afetivas — a avenida cheirando a laranjeira, o sussurro das auras na lagoa adormecida — e também familiares: a filha que era “astro” de esperança para o pai poeta e “rosa predileta” da mãe devotada. Trata-se de um idílio que confere sentido e promessa ao porvir.
A ruptura vem brusca: “Mas… tudo se acabou.” A impossibilidade de refazer seus caminhos e de rever seus “anjinhos”, que lhe aqueciam a mão, anunciam uma perda irreparável. Relatando lágrimas, Narcisa apresenta a figura do Calvário como metáfora desse percurso doloroso, com seus pés feridos pela provação. Surge a pergunta sobre o destino do mortal aflito, que só encontra resposta na transcendência: a saudade cava “sulco” de agonias, as alegrias morrem, e resta apenas um consolo — a visão dos “gozos do infinito”, a eternidade como último refúgio e esperança contra a devastação do passado perdido.
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