- Bruno Alves Pinto

- 21 de out.
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Primeira Parte
Aflita
O poema declama a dor de uma mulher abandonada após a “hora fatal” da partida do amado, abrindo com um epígrafe de “O Guarani” que antecipa a esperança de um retorno amoroso. A voz lírica contrapõe um “antes” luminoso — quando a alma, “garça languorosa”, brincava num lago de quimeras — ao “depois” enlutado, em que o céu se turva e ela se cobre do “manto da tristeza”, evocando a poeta de Lesbos, Safo, para marcar a tradição trágica do amor. O ponto de virada é a despedida em que ele promete voltar; ela, porém, prevê a própria morte (“quando voltares, já serei sem vida!”), transformando a promessa em fonte de angústia contínua.
A espera organiza o restante: a paisagem registra o ciclo das estações — andorinhas que retornam, mariposas que bebem do orvalho do campo — enquanto só o amado não volta ao “deserto ninho”. Os símbolos intensificam o tom elegíaco: “arcanjo da procela” e “epopeia túrgida de lágrimas” dramatizam a tempestade interior; Corina, poetisa grega clássica, surge como modelo de languidez amorosa; e os ciprestes, árvores fúnebres, anunciam que a única “ventura eterna” possível talvez seja a união post mortem. No fecho, a súplica troca a ansiedade pelo convite: se ele enfim regressar, que a encontre “à sombra do vale”, onde, sob os ciprestes, o amor se cumpre numa promessa de redenção que já não pertence ao mundo dos vivos.
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