Prefácio

II

O prefácio afirma a centralidade da poesia e da literatura na formação intelectual e política da humanidade. Ao percorrer fenômenos da consciência, atos da inteligência e metamorfoses do pensamento, sustenta que a poesia exerce influência legítima e constante. Nas épocas de constituição da linguagem, dos costumes, da moral social e da convivência com ciências, artes e religião, reconhece-se uma ação eficaz da poesia, que molda períodos históricos e povos — lição corroborada pela filosofia da história e pelo direito natural. A enumeração de grandes nomes ocidentais compõe um “concílio” simbólico: não para impor dogmas, mas para legar aforismos que se tornam código comum da humanidade.

A poesia é apresentada como poder cívico e pedagógico: livro de versos como lição para reis e “palavra de ordem” das nações, capaz de iluminar a história, revelar o que ela oculta, ressuscitar heróis, vingar mártires e punir traidores — uma glória que triunfa sobre o tempo. Em contraste, surge a voz da “arte”, tomada como rival e aliada: uma cidadã dos séculos futuros que precede e excede as eras, servindo tanto a paixões mesquinhas quanto a valores elevados como caridade, entusiasmo, direito, verdade e justiça, indicando a ambivalência do fazer artístico e seu alcance universal.

Na sequência, o texto desloca o foco para a Ásia, em particular a China, evocada como “redil murado” isolado pelo orgulho religioso e como berço de dotes naturais e da antiguidade moral do mundo. Essa paisagem funciona como exemplificação histórica do argumento: a arte reivindica ter habitado esse seio civilizacional, tê-lo engrandecido e, ao partir, deixado-o oprimido, “punido no castigo de seus sonhos”, sugerindo que a presença ou ausência da criação artística incide diretamente sobre o destino dos povos — exaltando, assim, o papel histórico da poesia e da arte na fortuna ou decadência das civilizações.

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