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  • Foto do escritor: Bruno Alves Pinto
    Bruno Alves Pinto
  • 11 de out.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 13 de out.


Opúsculo Humanitário - Nísia Floresta

Texto Original Completo - Domínio Público

IV


As mulheres romanas assinalaram-se por heroicas virtudes, de que as mulheres modernas não têm dado ainda, como elas, exemplos; porém déspotas tais como os romanos não podiam compreender e ministrar à mulher a educação que lhe convém. Os déspotas querem escravos, que se submetam humilde e cegamente à execução de suas vontades, e não inteligências que se oponham a elas e ensinem aos povos a sacudir o seu jugo. Fácil lhes foi, pois, deixarem na ignorância essa parte da humanidade, a quem Deus, em sua paternal previdência, aquinhoou de maior porção de bondade e doçura.

O egoísmo desse grande povo a respeito do sexo revela-se autenticamente em duas palavras do sábio e austero Catão. Esse oráculo disse: “Tratemos as mulheres como nossas iguais, e para logo elas tornar-se-ão nossas senhoras, e exigirão como tributo o que hoje recebem como uma graça.”

Infeliz Catão! Pensando assim da mulher, bem longe estavas de prever o leito de desesperação que, em Útica, te preparavam os profundos desgostos causados pelos ambiciosos, inimigos de teus austeros princípios, a quem, como a ti, faltaram desde a infância esses anjos de paz que tão salutar poder exerceriam sobre os destinos dos homens, se os homens soubessem compreender bem sua grande missão na sociedade!

Nesse terrível momento em que o estoico republicano, perdendo toda a esperança de libertar a pátria e não querendo dever a vida ao tirano que detestava, rasgou suas próprias entranhas, depois de ter lido o Diálogo do sublime Platão sobre a imortalidade da alma, nem ao menos pensou que, se uma mãe religiosa e esclarecida lhe tivesse dirigido os primeiros passos na vida, talvez tivesse ele feito melhor uso de suas virtudes e da leitura daquele admirável escrito!

Assim, a orgulhosa Roma, apresentando nos fastos de sua história os pacíficos Numas, adoçando por suas instituições religiosas a natural ferocidade dos romanos; os Brutos, crendo servir à república por um furor que enluta a natureza; os Césares, subjugando o mundo pelo poder de suas armas sempre vitoriosas; os Cíceros, extasiando os povos por sua eloquência, julgava-se quite para com a mulher unindo a esses nomes os das Lucrécias, das Cornélias, das Veturias etc.

A detestável Fúlvia, picando com um alfinete a língua do mais ilustre orador romano, não seria antes para vingar o sexo, cuja condição aquela grande eloquência nunca procurou melhorar, do que para satisfazer o furor que se lhe atribui pelas Filípicas publicadas pelo célebre escritor? E essa ação horrorosamente repugnante, sobretudo em uma mulher, não lança como que um espesso véu sobre as severas virtudes daquelas respeitáveis matronas? Em uma sociedade em que a educação e o espírito das mulheres fossem rigorosamente cultivados, poderiam aparecer monstros tais como as Messalinas, as Túlias, as Agripinas?




 
 
 

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