- Bruno Alves Pinto

- 21 de nov.
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Capítulo V
O capítulo começa com Sibyl Vane eufórica, confessando à mãe que está apaixonada pelo “Príncipe Encantado” e dizendo que o amor vale mais do que dinheiro. A sra. Vane, porém, só pensa nas dívidas, no adiantamento que o sr. Isaacs fez e na carreira da filha no teatro, respondendo sempre em tom de prudência interesseira. Enquanto Sibyl fala de amor como algo puro e ideal, a mãe insiste em lembrar o dinheiro e, em seguida, muda de estratégia: sugere que, se o jovem for rico, um casamento talvez seja possível, deixando claro que vê no romance da filha uma chance de ascensão social. Sibyl, imersa na paixão, ignora esses cálculos, sente-se orgulhosa de ser amada e pergunta se a mãe amara o pai da mesma forma. A pergunta abre uma ferida antiga: a sra. Vane fica nervosa, deixa transparecer dor e mistério, e tenta desviar o assunto, repetindo que a filha é jovem demais e que tudo é muito “inconveniente”.
A entrada de James Vane cria outro contraste. Ele é desajeitado, sério, cheio de ternura pela irmã, mas ressentido com a vida que levam. Vai partir para a Austrália como aprendiz de marinheiro e diz odiar o palco, sonhando em ganhar dinheiro justamente para tirar a mãe e Sibyl do teatro, que ele despreza. A mãe, por sua vez, fala de “sociedade” e das vantagens de ser advogado, tentando imaginar para o filho um futuro respeitável segundo convenções de classe que ele não valoriza. Já sozinho com a mãe, James pergunta sobre o homem que vai todas as noites vê-los no teatro. A sra. Vane diminui o perigo, diz que na profissão é “normal” receber atenções lisonjeiras, elogia as flores, a boa educação e a aparência aristocrática do rapaz, confessa achar “romântico” ele não revelar o verdadeiro nome — justamente o que mais incomoda James. Desconfiado, ele insiste para que a mãe cuide de Sibyl; sente, sem saber explicar, que ali há algo ameaçador.
Ao sair com a irmã, James ouve, carrancudo, as fantasias de Sibyl sobre o futuro dele na Austrália: ela inventa histórias de pepitas de ouro, herdeiras salvas de bandidos e retornos triunfais, como se a vida fosse um melodrama romântico. Ele pouco fala, dominado pela sensação de perda e por um forte ciúme protetor. Finalmente, pergunta diretamente pelo “novo amigo” dela. Sibyl o defende fervorosamente, repete que o ama, que ele é como o próprio amor deveria ser, e conta que o chama de “Príncipe Encantado”, sem revelar o nome real porque tampouco o conhece. Para ela, isso é poesia; para o irmão, é prova de perigo. Ela sonha em interpretá-lo naquela noite, em cena, como Julieta apaixonada diante do olhar dele na plateia, acreditando que o amor a transformará numa atriz genial. James insiste que ela tome cuidado, acusa o desconhecido de querer “escravizá-la”; Sibyl responde com frases de enamorada, dizendo que ver o amado é adorá-lo e que o amor torna as pessoas melhores, tentando suavizar e ridicularizar o excesso trágico do irmão.
Sentados no parque, cercados de flores, sol e gente elegante, a distância entre os dois fica ainda mais nítida. Sibyl tenta falar dos sonhos de James, mas ele permanece fechado. De repente, ela avista Dorian Gray passando numa carruagem e o identifica, exaltada, como o “Príncipe Encantado”. James tenta vê-lo, tomado pela urgência de reconhecer o homem que ameaça a irmã, mas uma outra carruagem impede a visão e Dorian desaparece. A frustração de não conseguir vê-lo aumenta a raiva de James: ele jura, com brutalidade, que, se esse sujeito algum dia fizer mal a Sibyl, irá matá-lo. A violência das palavras assusta a irmã e chama a atenção das pessoas em volta, mas ela acaba tratando a fala como exagero infantil, comparando o irmão a um herói de melodrama barato. Para Sibyl, tudo isso é ainda uma espécie de peça; para James, é um juramento muito sério, alimentado por ressentimento social e medo real.
De volta à pensão modesta onde moram, Sibyl vai descansar antes de atuar, e, no quarto, os irmãos se despedem com carinho. James continua corroído por ciúme e desconfiança, mas se deixa comover pelos gestos de afeto da irmã. Na sala, diante da refeição pobre e do som da rua, ele sente que o tempo está se esgotando e decide finalmente enfrentar a mãe sobre o próprio passado. Pergunta, seco, se ela foi casada com seu pai. A sra. Vane, depois de meses temendo esse momento, responde simplesmente que não. Explica que o pai dele era um cavalheiro “de altas relações”, que a amou, mas não era livre, e que, se tivesse vivido, teria cuidado deles. James, concluindo que o pai foi um canalha, muda o foco: diz que não se importa consigo, mas não quer que Sibyl sofra o mesmo destino. Liga imediatamente essa história ao misterioso “cavalheiro” que corteja a irmã, e a mãe, envergonhada, sussurra que Sibyl ao menos tem uma mãe, coisa que ela não teve. Tocando-se dessa fraqueza, James a beija, pede desculpas, mas reforça o voto de vingança: promete descobrir quem é o homem e matá-lo “como a um cão” se fizer mal à irmã. A sra. Vane, mais uma vez, vive essa explosão como uma cena teatral intensa, que a faz até admirar o filho, mas o efeito é diluído pelos detalhes banais da partida — malas, pechincha com o cocheiro, lenço acenado à janela. No fim, ela fica sobretudo decepcionada por sentir que uma “grande cena” de sua vida foi desperdiçada e, ao contar tudo a Sibyl depois, prefere destacar o quanto sofre por ficar só com uma filha para cuidar, guardando para si, em silêncio, a ameaça sombria que paira sobre o futuro de todos.
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