PARTE DOIS: A REVOLUÇÃO AGRÍCOLA
Capítulo 8
NÃO EXISTE JUSTIÇA NA HISTÓRIA
O capítulo inicia com a afirmação de que a Revolução Agrícola, embora tenha possibilitado o surgimento de sociedades mais complexas, também trouxe consigo o aumento da desigualdade social. As ordens imaginadas que sustentam essas sociedades, como o Código de Hamurabi e a Declaração de Independência dos EUA, apesar de proclamarem justiça, sempre criaram hierarquias e divisões entre as pessoas.
O autor argumenta que a história não é justa e que a maioria das culturas do passado foram vítimas de impérios opressores. Mesmo as ordens imaginadas que promovem a igualdade, como a americana, historicamente excluíram grupos como mulheres e negros. A ideia de que todos os humanos são iguais é um mito, assim como a crença na hierarquia social. Ambas são construções sociais que servem para manter a ordem e a cooperação em larga escala.
O CÍRCULO VICIOSO
O autor explora como as hierarquias sociais, embora baseadas em ficções, se perpetuam ao longo do tempo. Ele usa o exemplo do sistema de castas na Índia, que se originou da invasão indo-ariana há cerca de 3 mil anos. Os invasores estabeleceram uma hierarquia social rígida, dividindo a população em castas com diferentes direitos e deveres. Essa divisão foi reforçada por ideias religiosas de pureza e impureza, tornando-se profundamente enraizada na cultura indiana.
Mesmo após a independência da Índia, o sistema de castas persiste, influenciando casamentos e oportunidades de emprego, apesar dos esforços do governo para combatê-lo. O autor destaca que a discriminação muitas vezes se intensifica com o tempo, criando um círculo vicioso em que a desigualdade se justifica por seus próprios efeitos.
PUREZA NA AMÉRICA
Harari traça um paralelo entre o sistema de castas na Índia e a hierarquia racial nos Estados Unidos. A escravidão de africanos, justificada por mitos religiosos e científicos, criou uma divisão racial que persistiu mesmo após a abolição da escravidão. A desigualdade econômica e social entre negros e brancos se perpetuou, reforçando a crença na inferioridade dos negros e levando à criação de leis segregacionistas.
O autor destaca que a discriminação racial se manifestava em todas as esferas da sociedade, desde o acesso a empregos e educação até os padrões de beleza. A segregação racial nos EUA chegou a ser pior em meados do século XX do que no fim do século XIX, ilustrando como as hierarquias imaginadas podem se fortalecer com o tempo.
ELE E ELA
A hierarquia de gênero é outra divisão social presente em todas as sociedades humanas conhecidas. O autor argumenta que, embora existam diferenças biológicas entre homens e mulheres, a maioria das características atribuídas a cada gênero é cultural e não tem base biológica.
A desigualdade de gênero se manifesta na exclusão das mulheres de diversas esferas da vida pública, como política, educação e negócios. O autor usa o exemplo da Grécia Antiga, onde as mulheres eram cidadãs de segunda classe, em contraste com a Grécia moderna, onde têm direitos políticos e participam da vida pública, embora ainda enfrentem desigualdades.
SEXO E GÊNERO
Harari distingue "sexo", uma categoria biológica, de "gênero", uma categoria cultural. O sexo é definido por características biológicas objetivas, enquanto o gênero é construído socialmente e varia entre culturas. A sociedade atribui diferentes papéis, direitos e deveres a homens e mulheres, moldando suas identidades e expectativas.
O autor questiona a ideia de que certos comportamentos são "naturais" ou "não naturais", argumentando que a biologia permite um amplo espectro de possibilidades, e é a cultura que define o que é aceitável ou não. Ele usa exemplos como a homossexualidade, que é aceita em algumas culturas e condenada em outras, para ilustrar como as normas sociais moldam o comportamento humano, independentemente de bases biológicas.
O QUE HÁ DE TÃO BOM NOS HOMENS?
O autor explora as possíveis razões para a predominância do patriarcado na maioria das sociedades humanas. Ele analisa três teorias principais:
1. O poder dos músculos: Essa teoria atribui a dominância masculina à sua maior força física. No entanto, Harari argumenta que essa explicação é falha, pois as mulheres historicamente foram excluídas de atividades que exigiam pouco esforço físico, como política e religião, enquanto realizavam trabalhos braçais. Além disso, o poder social não está diretamente relacionado à força física, como evidenciado por líderes políticos e religiosos que muitas vezes não se destacam por sua força.
2. A agressividade masculina: Essa teoria sugere que a dominância masculina se deve à sua maior agressividade e propensão à violência, especialmente em tempos de guerra. No entanto, o autor argumenta que a guerra é um empreendimento complexo que requer habilidades como organização, cooperação e diplomacia, não apenas força bruta. Além disso, muitas sociedades foram governadas por elites que não se originaram nas forças armadas, questionando a ligação direta entre violência e poder.
3. Estratégias evolutivas: Essa teoria propõe que homens e mulheres desenvolveram diferentes estratégias de sobrevivência e reprodução ao longo da evolução. Os homens, competindo por parceiras, desenvolveram características como ambição e agressividade, enquanto as mulheres, dependentes de ajuda para criar os filhos, desenvolveram características como cuidado e submissão. No entanto, essa teoria também é contestada, pois existem sociedades matriarcais em outras espécies animais, onde a dependência feminina leva à cooperação e ao domínio social.
O PODER DOS MÚSCULOS
Harari aprofunda sua crítica à teoria que atribui a dominância masculina à força física. Ele argumenta que a história humana mostra uma relação inversa entre força física e poder social. As classes mais baixas geralmente realizam o trabalho braçal, enquanto as elites se concentram em atividades que exigem habilidades intelectuais e sociais. A posição do Homo sapiens no topo da cadeia alimentar se deve à sua inteligência e capacidade de cooperação, não à sua força física.
A ESCÓRIA DA SOCIEDADE
O autor explora a contradição entre a suposta superioridade masculina em termos de força e agressividade e sua histórica posição de soldado raso nos exércitos. Ele argumenta que as elites militares e políticas raramente se originavam das fileiras dos soldados, sendo compostas por aristocratas e pessoas com poder econômico e social, independentemente de sua força física.
GENES PATRIARCAIS
Harari discute a teoria de que as diferenças de gênero são resultado de estratégias evolutivas distintas. Segundo essa teoria, os homens, competindo por parceiras, desenvolveram características como ambição e agressividade, enquanto as mulheres, focadas na criação dos filhos, desenvolveram características como cuidado e submissão.
No entanto, o autor questiona essa teoria, apontando que a dependência feminina poderia levar à cooperação e ao domínio social, como ocorre em algumas sociedades de animais. Ele conclui que não há uma resposta definitiva para a questão da predominância do patriarcado, mas destaca que essa hierarquia se baseia em mitos e normas sociais, não em diferenças biológicas inatas.