PARTE DOIS: A REVOLUÇÃO AGRÍCOLA
Capítulo 7
SOBRECARGA DE MEMÓRIA
O capítulo discute os desafios que as sociedades humanas enfrentaram ao lidar com o aumento da complexidade e da quantidade de informações após a Revolução Agrícola. O autor argumenta que a capacidade limitada do cérebro humano para armazenar e processar grandes volumes de dados, especialmente numéricos, representou um obstáculo significativo para o desenvolvimento de sociedades maiores e mais complexas. A necessidade de registrar e gerenciar informações como transações, impostos e estoques de suprimentos militares exigia um sistema mais eficiente do que a memória humana.
A solução para esse problema foi a invenção da escrita, que permitiu armazenar informações fora do cérebro humano, expandindo consideravelmente a capacidade de organização e gestão das sociedades. No entanto, a escrita também trouxe novos desafios, como a necessidade de organizar, catalogar e recuperar informações de forma eficiente em grandes arquivos e bibliotecas.
ASSINADO, KUSHIM
Os sumérios, que habitavam a região da Mesopotâmia, foram os pioneiros na invenção da escrita, há cerca de 5 mil anos. Inicialmente, a escrita era usada principalmente para registrar dados econômicos, como transações comerciais e pagamento de impostos. As primeiras mensagens escritas encontradas são registros contábeis simples, como "29.086 medidas de cevada, 37 meses. Assinado, Kushim". O nome "Kushim" pode ser o primeiro nome individual registrado na história, o que é significativo por ser o nome de um contador, e não de um líder político ou religioso.
A escrita suméria inicial era um sistema parcial, capaz de representar apenas números e alguns tipos de informação, mas não a linguagem falada em sua totalidade. Outros sistemas parciais de escrita também foram desenvolvidos, como os quipus incas, que usavam cordas coloridas e nós para registrar dados numéricos. A escrita completa, capaz de representar qualquer tipo de informação, incluindo poesia e narrativas, só se desenvolveu mais tarde.
AS MARAVILHAS DA BUROCRACIA
Com o aumento da complexidade das sociedades e do volume de informações registradas, surgiram novos desafios relacionados à organização e ao acesso aos dados. A invenção de métodos de catalogação, indexação e recuperação de informações se tornou indispensável para o funcionamento eficiente de grandes arquivos e bibliotecas.
A escrita e a burocracia que a acompanhava transformaram a maneira como os humanos pensavam e organizavam o mundo. O pensamento livre e holístico deu lugar à compartimentalização e à organização sistemática de informações. A capacidade de armazenar e processar grandes volumes de dados possibilitou o surgimento de cidades, reinos e impérios em uma escala muito maior do que antes.
A LINGUAGEM DOS NÚMEROS
Um avanço decisivo na organização de informações foi a invenção do sistema numérico decimal e da notação matemática moderna, que permitiu lidar com dados matemáticos de forma muito mais eficiente. A matemática se tornou a linguagem dominante para registrar e processar informações em Estados, empresas e instituições em todo o mundo. A capacidade de traduzir ideias e conceitos em números se tornou essencial para influenciar decisões e compreender o mundo.
A invenção dos computadores e do sistema binário levou essa tendência ainda mais longe. Hoje, a maior parte das informações é armazenada e processada digitalmente, e a inteligência artificial busca criar novas formas de inteligência baseadas nesse sistema. A escrita, que nasceu como uma ferramenta a serviço da humanidade, está se tornando cada vez mais a senhora de nossa forma de pensar e interagir com o mundo.