PARTE DOIS: A REVOLUÇÃO AGRÍCOLA
Capítulo 6
CONSTRUINDO PIRÂMIDES
A Revolução Agrícola, apesar de suas desvantagens para o indivíduo, possibilitou um aumento populacional sem precedentes. Em 10.000 a.C., a Terra abrigava cerca de 5-8 milhões de caçadores-coletores. Já no século I d.C., a população humana havia crescido para 250 milhões, a maioria agricultores vivendo em assentamentos permanentes.
A CHEGADA DO FUTURO
Essa mudança para um estilo de vida sedentário teve um impacto profundo na relação do homem com o espaço e o tempo. O território de um agricultor era drasticamente menor do que o de um caçador-coletor, e sua vida se concentrava em sua casa e em seu pequeno campo.
Essa mudança espacial também afetou a percepção do tempo. Enquanto caçadores-coletores se preocupavam pouco com o futuro, os agricultores precisavam planejar a longo prazo, pensando em colheitas futuras e estocando alimentos para tempos de escassez. A agricultura, portanto, trouxe consigo a ansiedade em relação ao futuro.
UMA ORDEM IMAGINADA
O aumento da produção de alimentos e o desenvolvimento de novas tecnologias de transporte permitiram o surgimento de cidades e reinos, com populações muito maiores do que as comunidades de caçadores-coletores. No entanto, a mera existência de excedentes alimentares e melhores meios de transporte não garantiam a coesão social em grande escala.
Para que grandes grupos de pessoas cooperassem de forma eficaz, era necessário algo mais: uma "ordem imaginada", baseada em mitos compartilhados. Essas ordens imaginadas, como o Código de Hamurabi na Babilônia e a Declaração de Independência dos Estados Unidos, estabeleciam normas e hierarquias sociais que permitiam a cooperação em larga escala.
OS QUE REALMENTE ACREDITAM
O autor argumenta que essas ordens imaginadas só funcionam se as pessoas realmente acreditarem nelas. A violência e a coerção podem ser usadas para impor a ordem, mas não são suficientes para sustentá-la a longo prazo. A crença em mitos compartilhados é o que permite que milhões de estranhos cooperem e construam sociedades complexas.
O autor usa o exemplo do cristianismo e da democracia americana para ilustrar esse ponto. Essas ordens imaginadas só sobreviveram porque grandes segmentos da população, incluindo a elite e as forças de segurança, acreditavam em seus mitos fundadores.
OS MUROS DA PRISÃO
Para que as pessoas acreditem em uma ordem imaginada, três fatores são essenciais:
1. A ordem imaginada está incrustada no mundo material: A arquitetura, a moda e outros elementos do mundo físico reforçam as crenças da ordem imaginada. O autor usa o exemplo da casa moderna, com seus quartos individuais, que reflete a crença no individualismo, em contraste com os castelos medievais, que reforçavam a importância da hierarquia social.
2. A ordem imaginada define nossos desejos: Nossos desejos são moldados pelos mitos dominantes da nossa cultura. O desejo de férias no exterior, por exemplo, é influenciado por mitos românticos e consumistas.
3. A ordem imaginada é intersubjetiva: Ela existe na imaginação coletiva de milhões de pessoas. Mudá-la requer uma mudança na consciência coletiva, o que só é possível através de organizações complexas que, por sua vez, também se baseiam em mitos compartilhados.
O autor conclui que não há como escapar da ordem imaginada. Mesmo quando buscamos a liberdade, estamos apenas nos movendo para um pátio maior dentro de uma prisão maior. A ordem social é construída sobre mitos, e esses mitos moldam nossos desejos e comportamentos, perpetuando a própria ordem que os criou.