PARTE DOIS: A REVOLUÇÃO AGRÍCOLA
Capítulo 5
A MAIOR FRAUDE DA HISTÓRIA
O capítulo inicia com a observação de que, por 2,5 milhões de anos, os humanos viveram como caçadores-coletores, dependendo da natureza para sua subsistência. A Revolução Agrícola, há cerca de 10 mil anos, mudou isso drasticamente. Os humanos passaram a cultivar plantas e criar animais, na busca de mais alimentos. Essa transição começou no Oriente Médio e se espalhou pelo mundo, com diferentes povos domesticando diferentes espécies.
A visão tradicional da Revolução Agrícola como um grande salto para a humanidade, impulsionado pela inteligência humana, é questionada pelo autor. Ele argumenta que a agricultura não trouxe uma vida mais fácil, mas sim mais difícil e menos gratificante que a dos caçadores-coletores. A agricultura aumentou a produção de alimentos, mas isso resultou em crescimento populacional e desigualdade social, não em melhor qualidade de vida para a maioria.
O autor propõe que a agricultura foi uma "fraude", na qual os humanos foram domesticados pelas plantas, como o trigo. O cultivo exigia muito trabalho e tempo, causando problemas de saúde e forçando as pessoas a se estabelecerem em um lugar, o que aumentou a vulnerabilidade a doenças e conflitos.
A ARMADILHA DO LUXO
A transição para a agricultura foi gradual. Os sapiens no Oriente Médio começaram a consumir mais trigo selvagem, o que favoreceu seu crescimento perto dos acampamentos. Com o tempo, passaram a cultivá-lo, dedicando cada vez mais tempo a essa atividade e menos à caça e coleta. A população cresceu, a mortalidade infantil aumentou e a vida se tornou mais difícil.
Essa "armadilha do luxo" se perpetuou porque as pessoas não conseguiam prever as consequências de suas ações. Cada pequena mudança parecia trazer benefícios, mas o resultado a longo prazo foi uma vida mais dura. O crescimento populacional tornou o retorno ao estilo de vida anterior impossível.
INTERVENÇÃO DIVINA
O autor questiona se a busca por uma vida mais fácil foi a única motivação para a Revolução Agrícola. Ele sugere que talvez os sapiens tivessem outras aspirações, como a construção de templos e monumentos, evidenciada por Göbekli Tepe, um sítio arqueológico na Turquia com estruturas monumentais construídas por caçadores-coletores antes da agricultura.
A domesticação de animais, como ovelhas e cabras, também foi parte da Revolução Agrícola. A caça seletiva, a proteção contra predadores e a criação em cativeiro levaram à domesticação, transformando animais selvagens em rebanhos controlados pelos humanos.
A agricultura trouxe benefícios como proteção e maior produção de alimentos, mas para os animais domesticados foi uma catástrofe. Sua vida se tornou miserável, com mutilações, confinamento e exploração. A produção de leite e ovos, por exemplo, envolve práticas cruéis que ignoram as necessidades emocionais e sociais dos animais.
O autor conclui que a Revolução Agrícola aumentou o poder coletivo da humanidade, mas ao custo de grande sofrimento individual, tanto para humanos quanto para animais. A busca por uma vida mais fácil resultou em mais dificuldades, e o sucesso evolutivo de algumas espécies não se traduz em bem-estar individual. Essa é a lição mais importante da Revolução Agrícola.
VÍTIMAS DA REVOLUÇÃO
A Revolução Agrícola permitiu um grande crescimento populacional, de 5-8 milhões de caçadores-coletores para 250 milhões de agricultores no século I d.C., a maioria vivendo em assentamentos permanentes.
Esses assentamentos eram menores e mais artificiais que os territórios dos caçadores-coletores, cercados por muros e focados em manter a distância da natureza selvagem. A vida se tornou mais sedentária e a preocupação com o futuro aumentou, devido à dependência dos ciclos agrícolas e à incerteza de secas e pragas.
Essa ansiedade com o futuro impulsionou a criação de sistemas políticos e sociais complexos. Os camponeses, que representavam a maioria da população, trabalhavam duro para produzir excedentes de alimentos que sustentavam as elites, que, por sua vez, se dedicavam à política, guerra, arte e filosofia. A história, em grande parte, é o relato das ações dessas elites, enquanto a maioria trabalhava nos campos.