PARTE UM: A REVOLUÇÃO COGNITIVA
Capítulo 4
A INUNDAÇÃO
O capítulo se inicia com a constatação de que, antes da Revolução Cognitiva, os humanos se limitavam ao continente afro-asiático, eventualmente chegando a ilhas próximas. A travessia do mar aberto era impossível, impedindo o acesso a locais como América e Austrália. O planeta era, portanto, dividido em ecossistemas distintos, com flora e fauna próprias.
A Revolução Cognitiva, entretanto, deu aos sapiens as ferramentas para explorar o "Mundo Exterior". A primeira grande conquista foi a Austrália, há 45 mil anos. A travessia de canais marítimos de até 100 km de largura e a adaptação a um novo ecossistema são feitos notáveis.
A teoria mais aceita é que os sapiens da Indonésia se tornaram os primeiros marinheiros, construindo embarcações e dominando a navegação. Evidências arqueológicas, como o comércio marítimo entre ilhas distantes, corroboram essa teoria.
A chegada à Austrália foi um marco na história, comparável à chegada na América ou à Lua. Os sapiens se tornaram o topo da cadeia alimentar em um novo território, causando grande impacto no ecossistema.
A megafauna australiana, com animais únicos como cangurus gigantes e leões marsupiais, foi extinta em poucos milênios. Das 24 espécies com mais de 50 kg, 23 desapareceram, reorganizando toda a cadeia alimentar.
DECLARADOS CULPADOS
Alguns cientistas atribuem essa extinção a mudanças climáticas, mas há evidências que apontam para a culpa dos sapiens:
1. A mudança climática na Austrália foi branda, e a megafauna já havia sobrevivido a eras glaciais anteriores. É improvável que todos esses animais tenham sido extintos pelo clima justamente quando os humanos chegaram.
2. A extinção afetou principalmente animais terrestres, enquanto a vida marinha permaneceu intacta, o que sugere a ação de humanos, que ainda eram predominantemente terrestres.
3. Padrões similares de extinção em massa ocorreram onde quer que os sapiens se estabelecessem, como na Nova Zelândia e na Ilha de Wrangel, evidenciando a ação humana.
Mesmo com tecnologia da Idade da Pedra, os sapiens causaram um desastre ecológico. Há três explicações complementares:
1. Animais grandes se reproduzem lentamente. A caça de poucos indivíduos por ano seria suficiente para levá-los à extinção em alguns milênios.
2. Os animais australianos não temiam os humanos e foram pegos de surpresa, enquanto os da África e Ásia já haviam aprendido a evitá-los.
3. Os sapiens dominavam o fogo e o usavam para abrir clareiras na vegetação, alterando o ecossistema e favorecendo algumas espécies, como o eucalipto, em detrimento de outras.
A combinação de mudanças climáticas e caça humana foi devastadora, especialmente para animais grandes. A extinção da megafauna australiana foi a primeira grande marca dos sapiens no planeta, seguida por um desastre ainda maior na América.
O FIM DA PREGUIÇA
Os sapiens chegaram à América há cerca de 16 mil anos, atravessando a pé uma ponte de terra entre a Sibéria e o Alasca. Eles se adaptaram a diversos climas, do Ártico à Terra do Fogo, em apenas 2 mil anos, demonstrando sua engenhosidade.
A América era rica em megafauna, com mamutes, tigres-dentes-de-sabre e preguiças-gigantes. Mas, 2 mil anos após a chegada dos sapiens, a maioria estava extinta. A América do Norte perdeu 34 de 47 gêneros de grandes mamíferos, e a do Sul, 50 de 60.
Evidências fósseis mostram que a extinção coincidiu com a chegada dos humanos. No Caribe, coprólitos de preguiça-gigante datam da época em que os humanos chegaram às ilhas. A culpa dos sapiens é inegável.
A ARCA DE NOÉ
A expansão dos sapiens causou extinções em massa em todos os lugares. Na Nova Zelândia, os maoris exterminaram a megafauna em poucos séculos. Em Madagascar, lêmures gigantes e pássaros-elefantes desapareceram com a chegada dos humanos. Ilhas do Pacífico e do Índico sofreram o mesmo destino.
Essa foi a "Primeira Onda de Extinção", seguida por outra com a agricultura e, agora, pela "Terceira Onda", causada pela indústria. A ideia de que nossos ancestrais viviam em harmonia com a natureza é falsa.
Os humanos são a espécie mais mortífera da história. Se não mudarmos, baleias, tubarões e outros animais marinhos podem ser as próximas vítimas. Das grandes criaturas, só sobreviverão humanos e seus animais domesticados, como na Arca de Noé.