Romance XVII ou Das lamentações no Tejuco
Cecília retrata a ambivalência e a ironia da riqueza e da opressão. Através de uma série de exclamações, o poema descreve a grandiosidade natural e a beleza dos campos, contrastando-as com a brutalidade da escravidão e a superficialidade das aparências. A repetição do "Ai" inicial em cada linha confere um tom de lamentação, intensificando o sentimento de injustiça e sofrimento.
O poema aborda diretamente a figura do "dono do Serro Frio", uma referência a um proprietário de minas que se beneficia da exploração do ouro e do trabalho escravo, em oposição à condição dos trabalhadores, "a apodrecerem nos rios". Essa dicotomia entre os ricos e poderosos, que desfrutam dos lucros, e os escravizados, que sofrem as consequências, é um tema central da obra. Meireles critica a hipocrisia da sociedade colonial, que exibia ostentação e religiosidade superficial, simbolizada pelas "capelas douradas" e pelos "modos tão altivos", mas que se baseava em "decisões tão falsas" e em um sistema profundamente injusto.
A imagem das "doze mucamas" que ficam com Chica, enquanto o dono viaja para a Corte, sugere a dependência e o sofrimento das mulheres escravizadas, que suspiram e gemem em meio a um ambiente de riqueza que esconde a dor. A metáfora das "grossas vagas tenebrosas" que "nascem no humano destino" reflete a ideia de um destino implacável e inevitável, marcado pelo sofrimento e pela exploração.
No final do poema, Meireles amaldiçoa o Conde e o ouro, símbolos da opressão e da ganância que perpetuam a escravidão e a injustiça. O ouro, que deveria ser uma fonte de riqueza e progresso, é visto como a causa de "algemas", "muros densos", "forcas" e "injustas sentenças", destacando a perversidade do sistema colonial. A última imagem, das "doze mucamas" que gemem enquanto "pranto e diamantes caídos" formam "um mar de estrelas", une a dor e a beleza de forma paradoxal, ressaltando a tragicidade da condição humana.