Romance XI ou Do punhal e da flor
Neste poema a autora utiliza uma cena aparentemente cotidiana e religiosa para tecer uma narrativa cheia de tensão e drama, características recorrentes na obra. A donzela, central na história, está rezando na igreja durante a Semana Santa, quando o Ouvidor Bacelar a observa com desejo. O arremesso de uma flor pelo Ouvidor, um ato de cortejo, transforma-se em um evento de grande repercussão. Este ato, que deveria ser inofensivo, desencadeia a ira de Felisberto, parente da donzela, e culmina na intervenção do Contratador com um punhal.
A escolha da Semana Santa e o cenário da igreja intensificam o contraste entre a santidade do lugar e o comportamento profano dos personagens, refletindo sobre a hipocrisia e as contradições humanas. A ironia é evidente quando a mesma mão que esteve em oração diante do altar se transforma em instrumento de violência. O punhal, símbolo de morte e desgraça, aparece em reação à flor, símbolo de amor e beleza, demonstrando como a beleza e o amor podem, paradoxalmente, gerar conflito e tragédia.
O poema termina com a imagem do Tejuco (atual Diamantina), a murmurar sobre o ocorrido, evidenciando como a sociedade se envolve e comenta os eventos, movida por diferentes sentimentos: ódio ou amor. A obra de Cecília Meireles, ao tratar de temas como a violência, a paixão e a moralidade, e ao situar-se no contexto da Inconfidência Mineira, convida à reflexão sobre as complexas relações humanas e sociais.