Romance VII ou Do negro nas catas
Neste poema, Meireles focaliza a figura do negro escravizado nas minas de ouro e diamante, que eram fundamentais para a economia colonial. O canto do negro, repetidamente mencionado ao longo do poema, simboliza tanto a presença e resistência cultural quanto a expressão de uma melancolia profunda e uma saudade intransponível. Esse canto é contrastado com o sono dos donos e a vigilância dos feitores, criando uma atmosfera de tensão e controle que perpassa a vida dos escravos.
A menção à "estrela-d’alva" e ao "diamante a arder, na aurora tão fria" sugere uma esperança tênue, talvez uma libertação simbólica que nunca chega, apenas vislumbrada no horizonte. O contraste entre a riqueza mineral ("pedras que, melhor que os homens, trazem luz no coração") e a miséria humana ("penar tanto e não ter nada") acentua a ironia cruel da realidade dos escravos, cujas vidas são gastas na extração de riquezas das quais eles mesmos não usufruem.
A referência à terra "toda mexida" e à água "toda revirada" evoca a imagem do ambiente físico devastado pela mineração, refletindo também a devastação das vidas dos escravos. A ideia de que "liberdade é pedra grada" reforça o conceito de que a verdadeira liberdade é preciosa e rara, difícil de alcançar.
O poema, portanto, não só contextualiza a realidade dos negros escravizados na mineração, mas também amplia a visão sobre a luta pela liberdade no contexto da Inconfidência Mineira. Através da exploração lírica das contradições e sofrimentos da vida colonial, Cecília Meireles oferece uma poderosa crítica social e uma homenagem às vozes silenciadas da história.