Romance VI ou Da transmutação dos metais
Cecília Meireles descreve uma série de acontecimentos em torno do envio de ouro do Brasil para Portugal, um tema recorrente na obra, que evidencia as tensões e injustiças econômicas e políticas da época colonial.
A narrativa inicia-se com a preparação das festas para os noivados entre Portugal e Espanha, cenário que já estabelece um contexto de grandiosidade e ostentação das cortes europeias. O rei D. João V é retratado como um monarca faustoso, preocupado com as despesas de seu reino e com a manutenção de uma imagem de poder e opulência, contrastando com a situação de miséria e exploração nas colônias.
A chegada do ouro do Brasil, representada pelos "quintos das minas", traz inicialmente um alívio e alegria ao rei, mas essa expectativa se transforma em decepção quando se descobre que os caixões, supostamente cheios de ouro, contêm apenas chumbo. Este episódio de fraude simboliza não apenas a corrupção e as traições que permeiam o sistema colonial, mas também a precariedade e desespero dos colonos, que muitas vezes recorriam a meios ilícitos para sobreviver à exploração metropolitana.
O poema evidencia a complexidade dos relacionamentos e intrigas políticas, com menções a figuras específicas como D. Rodrigo César e Sebastião Fernandes Rego, e a forma como a providência divina é vista pelos personagens como um meio de justiça contra os excessos e pecados da realeza. Meireles utiliza uma linguagem carregada de ironia e tristeza, realçada pelos repetidos "ais", que conferem um tom de lamento e resignação.