Romance V ou Da destruição de Ouro Podre
O poema se inicia com um tom de acalanto, contrastando a aparente tranquilidade com a violência iminente, criando um efeito de suspense. A narrativa conta a destruição do Arraial de Ouro Podre, causada por D. Pedro de Almeida, Conde de Assumar, cujos soldados incendiaram a vila. A promessa de não fazer mal a ninguém feita pelo Conde é rapidamente revelada como uma mentira, evidenciada pelas cenas de desespero subsequentes.
Cecília Meireles utiliza o relato histórico da execução de Felipe dos Santos, líder da Revolta de Vila Rica, como um exemplo da repressão brutal contra os que ousaram desafiar a opressão colonial. A execução e esquartejamento de Felipe são descritos com detalhes vívidos e perturbadores, destacando a crueldade e a injustiça das autoridades. A menção ao sofrimento dos cavalos que arrastaram seu corpo ensanguentado sublinha a desumanidade do ato.
O poema também tece uma crítica ao sistema de poder, refletindo sobre a impunidade dos tiranos e a perseguição dos justos. A riqueza da terra, representada pelo ouro, é mostrada como a raiz da cobiça e da violência. A imagem do ouro secando um dia sugere a efemeridade do poder baseado na exploração e na injustiça. Meireles implica que a opressão não ficará sem resposta, prenunciando castigos futuros para os opressores e a continuidade da luta pela justiça.
Através de uma estrutura lírica e narrativa, Meireles entrelaça o destino pessoal de Felipe dos Santos com o destino coletivo do povo de Ouro Podre, simbolizando a resistência contra a tirania. A repetição do refrão "Dorme, meu menino, dorme..." serve tanto para acalentar quanto para lembrar das tragédias e lições do passado, destacando a importância da memória histórica na luta contínua por justiça.