- Bruno Alves Pinto

- 4 de nov.
- 11 min de leitura
O Retrato de Dorian Gray Oscar Wilde
Texto Original Completo (em domínio público)
Capítulo XVI
Uma chuva fria começou a cair, e os lampiões das ruas, borrados, pareciam fantasmagóricos na névoa encharcada. Os botequins estavam justamente fechando, e homens e mulheres sombrios se juntavam em grupos desfeitos diante das portas. De alguns balcões vinha o som de risadas horríveis. Noutros, bêbados brigavam e gritavam.
Reclinado no hansom, com o chapéu puxado sobre a testa, Dorian Gray observava com olhos apáticos a sordidez vergonhosa da grande cidade e, de quando em quando, repetia para si mesmo as palavras que lorde Henry lhe dissera no primeiro dia em que se haviam encontrado: “Curar a alma pelos sentidos, e os sentidos pela alma.” Sim, esse era o segredo. Ele o tentara muitas vezes e tentaria de novo agora. Havia antros de ópio onde se podia comprar o esquecimento, antros de horror onde a memória de pecados antigos podia ser destruída pela loucura de pecados novos.
A lua pendia baixa no céu como um crânio amarelo. De tempos em tempos, uma nuvem enorme e disforme estendia um braço comprido e a ocultava. As lâmpadas a gás rareavam, e as ruas tornavam-se mais estreitas e sombrias. Uma vez o cocheiro perdeu o caminho e precisou voltar meia milha. O vapor se erguia do cavalo ao espirrar nas poças. As janelas laterais do hansom estavam entupidas por uma névoa de flanela cinzenta.
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