- Bruno Alves Pinto

- 4 de nov.
- 25 min de leitura
O Retrato de Dorian Gray Oscar Wilde
Texto Original Completo (em domínio público)
Capítulo XI
Por anos, Dorian Gray não conseguiu se libertar da influência daquele livro. Ou talvez fosse mais exato dizer que jamais tentou se libertar dele. Mandou vir de Paris nada menos que nove exemplares em papel de luxo da primeira edição, e mandou encaderná-los em cores diferentes, para que combinassem com seus vários humores e com os caprichos cambiantes de uma natureza sobre a qual ele parecia, às vezes, ter perdido quase por completo o controle. O herói, o maravilhoso jovem parisiense em quem os temperamentos romântico e científico se misturavam de modo tão estranho, tornou-se para ele uma espécie de prenúncio de si mesmo. E, de fato, o livro inteiro lhe parecia conter a história de sua própria vida, escrita antes que ele a vivesse.
Num ponto ele foi mais afortunado do que o fantástico herói do romance. Nunca soube—nunca, na verdade, teve motivo para saber—daquela espécie de grotesco horror a espelhos, a superfícies de metal polido e à água parada, que acometeu tão cedo o jovem parisiense, e foi provocado pela súbita decadência de uma beleza que em outros tempos, ao que parecia, fora tão notável. Era com uma alegria quase cruel—e talvez em quase toda alegria, assim como certamente em todo prazer, a crueldade tenha seu lugar—que ele costumava ler a parte final do livro, com seu relato realmente trágico, ainda que algo exagerado, do sofrimento e do desespero de alguém que perdera, em si mesmo, aquilo que mais prezara nos outros e no mundo.
Pois a maravilhosa beleza que fascinara Basil Hallward, e a muitos outros além dele, parecia nunca abandoná-lo. Mesmo aqueles que tinham ouvido as coisas mais vis contra ele—e de tempos em tempos rumores estranhos sobre seu modo de vida se espalhavam por Londres e viravam conversa de clube—não conseguiam acreditar em nada desonroso quando o viam. Ele sempre tinha o aspecto de quem se mantivera imaculado diante do mundo. Homens de fala grosseira se calavam quando Dorian Gray entrava na sala. Havia algo na pureza de seu rosto que os repreendia. Sua simples presença parecia despertar neles a lembrança da inocência que haviam maculado. Perguntavam-se como alguém tão encantador e gracioso quanto ele conseguira escapar à mancha de uma época ao mesmo tempo sórdida e sensual.
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