Capítulo 3
Doze dias após a partida de Jorge, Luísa aborrecia-se com a solidão e decidia visitar Leopoldina. Joana, a cozinheira, comemorava que teria a oportunidade de trazer para dentro de casa seu namorado. Juliana pede licença para ir ao médico.
Luísa já estava bem vestida para sair quando recebe uma visita inesperada: o primo Basílio. Ele vinha de uma longa viagem pela Europa e pela Terra Santa, de onde trouxera um rosário de presente, além de um par de luvas de Paris. A moça encanta-se pelas aventuras do antigo namorado, relembra com ele episódios de sua juventude e desiste de visitar Leopoldina. Basílio se contenta em saber que o marido está em viagem e promete novas visitas.
Ao ir embora, o rapaz reflete que fora um acerto visitar a prima: ela parece-lhe ainda mais interessante que antigamente e muito mais apetitosa que suas amantes francesas. Admirada com a aparência mais madura e a postura desbravadora de Basílio, Luísa sente-se inspirada a viajar, a experimentar uma vida menos pacata. Por outro lado, tem saudades de Jorge, que considera um esposo exemplar.
Juliana retornou pouco após a saída de Basílio. À noite ela interrogou Joana sobre o tempo que o moço permaneceu na casa. A empregada tinha uma vida infeliz, sempre servindo a senhores que desprezava e queixando-se de moléstias. Comia restos das refeições e dormia num sótão abafado. Sempre fora feia e nunca tivera um homem, nem se divertia com nada, exceto com compras de botinas. Sua última esperança de enriquecimento, uma possível herança deixada pela mãe de Jorge, da qual cuidara com o máximo zelo em seus últimos meses de vida, não se realizou. Restava a ela continuar desprezando seus patrões e desejando o pior a todos. Sua única ligação positiva era com Joana, de quem recebia alguns pratos de boa comida em troca da tolerância às visitas escondidas de seu namorado.