Capítulo 14
Em uma semana Raimundo mudou-se para uma casinha que possuía na cidade. Passava o tempo todo solitário, cheio de tédio, contando os dias para seu retorno à capital. Às vezes lembrava-se de Ana Rosa, mas logo se desiludia.
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Na cidade havia várias versões sobre a saída de Raimundo da casa de Manuel: comentava-se que o sobrinho havia roubado o tio, ou tivera um empréstimo negado por ele. Alguns elaboravam teorias políticas em que Raimundo estaria participando de algum golpe.
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Ana Rosa ainda sofria com o abandono de seu amado, abominava-o, imaginando que ele o fazia propositalmente. Em outros momentos considerava que, por ter sido ela a iniciar o romance, Raimundo não possuía qualquer culpa. Manuel, orientado pelo cônego, reforçava a ideia de que o mulato não se importava com ela. A avó deixava claro que nunca abençoaria sua união com alguém de sangue “impuro”.
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Entre as rodas de senhoras e moças, a maioria considerava acertada a decisão de Manuel em impedir o casamento da filha com um filho de escrava, mas também havia quem julgasse que Raimundo era um bom partido.
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Discutindo sobre o caso, Casusa defendia que Raimundo era melhor que muitos homens da cidade, enquanto Sebastião Campos se recusava a equiparar pretos e brancos. Ao comentarem sobre a posição política do rapaz, que defendia a república, Sebastião dizia que o país, com um povo tão ignorante, não estava preparado para tal regime. Casusa argumenta que somente uma revolução poderia mudar o cenário da época, em que o povo trabalhava para pagar as contas do governo, enquanto estrangeiros portugueses eram favorecidos em todos os aspectos.
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Na noite anterior à partida do navio que levaria Raimundo embora, o rapaz redigiu uma carta a Ana Rosa e recebeu uma outra, anônima, que o despedia do Maranhão com insultos e deboches.
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Manuel e Diogo encontraram-se pela manhã para acompanharem Raimundo em seu embarque. Após uma longa espera no cais, o sobrinho não deu qualquer sinal de vida e o navio estava prestes a zarpar.
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