Capítulo 6
Havia algum tempo que Ana Rosa visitava o quarto de seu primo durante sua ausência: ela revirava e lia papéis, cheirava o travesseiro e experimentava peças de roupa com grande volúpia.
Na ocasião em que Raimundo estava prestes a descobri-la, a menina folheava um tratado de fisiologia que estava na cabeceira da cama, dando especial atenção às imagens de um parto e do ato da fecundação. Revelava-se o seu destino, sua inclinação natural de ser esposa, mãe e dona de casa.
Assim que o dono do quarto apareceu, Ana Rosa tentou fugir, mas foi impedida por ele, que passou a dar um sermão sobre o absurdo daquela situação: a visita de uma moça ao quarto de um rapaz era totalmente indigna e nunca mais deveria ocorrer.
A garota se desdobrou em prantos e soluços, revelando o que motivava sua invasão: estava totalmente apaixonada pelo primo, que não parecia corresponder. Surpreendido pela declaração de Ana, Raimundo percebeu que ele também a desejava e considerou um despropósito permanecerem naquela cena: sugeriu que ficassem contentes, pois bastaria que ele pedisse sua mão em casamento. Houve uma breve troca de beijos.
Manuel ficou doente e teve que adiar para o mês seguinte a viagem para a fazenda de Raimundo. À noite a casa encheu-se mais uma vez com as habituais visitas. Nos dias seguintes Ana Rosa passou a ajudar a avó Maria Bárbara a organizar a festa de São João, que ocorria tradicionalmente em sua chácara, por ser uma data especial: fora o nascimento de seu finado marido, sua data de noivado e casamento, data de batismo de sua primeira filha e de casamento da segunda. A velha só se preocupava com a permanência do indesejado hóspede.
Raimundo continuava enjoado da pacata vida em São Luís. Escreveu e publicou alguns folhetins, contos e crônicas sobre o povo do local, mas foi extremamente malvisto e perseguido. Restava a ele se casar e ir embora daquela terra.