Capítulo 6
Amaro logo se acomodou à vida em Leiria, que parecia uma recompensa dos anos sofridos com seu tio, no seminário e em Feirão: tinha roupas limpas, comida quentinha, companhia de mulheres e responsabilidades leves. A convivência com Amélia, que se fazia muito aberta ao pároco em conversas e brincadeiras, despertava-lhe desejos profundos.
Havia uma publicação chamada “Cânticos a Jesus” que trazia orações repletas de termos que poderiam ser interpretados como luxuriosos: “Amo-te com paixão e desespero! Abrasa-me! Queima-me! Vem! Esmaga-me! Possui-me!”. Padre Amaro resolveu presentear Amélia com este livro e ela sofria de insônia e palpitações após sua leitura.
Certo dia ao chegar em casa padre Amaro encontrou a porta do quarto de S. Joaneira entreaberta e a flagrou na companhia do Cônego Dias, ambos vestindo-se. Saiu sem ser notado e ficou ruminando aquele escândalo jamais suspeitado: seriam mãe e filha sedutoras de padres em troca de ajuda financeira? Concluía que eram todos pecadores e chegava a sentir prazer ao imaginar possuir Amélia em um quarto enquanto o Cônego se uniria a S. Joaneira no outro.
Mais tarde Amaro encontrou João Eduardo fazendo visita a Amélia, situação que sempre o incomodava. Ainda afetado pela cena que presenciara, isolou-se em seu quarto lamentando que tenha sido levado ao seminário: poderia ser um ótimo marido, seria totalmente devotado à sua família, tinha inveja de João Eduardo. Foi dormir desejando Amélia e seus beijos.