
Capítulo 5
No andar de cima Amélia também estava desperta, ouvindo a vizinha adormecer seu bebê com uma canção de ninar. Ela lembrava-se de seu passado, quando sua mãe embalava o sono de um irmãozinho seu que morrera.
Quando pequena Amélia teve uma mestra que vivera num convento e contava-lhe histórias sobre freiras apaixonadas. A mãe recebia visitas frequentes de padres e isso a tornava sempre interessada nos costumes da igreja. Seu mestre de piano também tinha histórias de um homem apaixonado por uma freira, que se tornou frade franciscano após a morte de sua amada.
Quando estava preste a “ser mulher” a garota teve febres e sonhos em que via figuras religiosas beijando-se amorosamente, seguidas de imagens sangrentas.
Com quinze anos Amélia foi cortejada por um rapaz durante uma estada na praia. Dias depois, no entanto, ela soube que o moço havia se casado com outra. Desiludida, chegou a pensar em ser freira.
Com vinte e três anos já não nutria sentimentos românticos, devotando seu tempo à religião. Conheceu João Eduardo, que se dispôs a casar com ela, mas não se empolgava com a ideia, adiando o acordo.
Assim foi a vida de Amélia até a chegada de Amaro, a quem ficou observando pela janela, quando saía de casa, na manhã seguinte ao inesperado encontro noturno.