
Capítulo 9
Jerônimo não estava mais de cama, mas seu comportamento mudara. Tomava todas as manhãs café e parati, receitados pela Ritinha “pra cortar a friagem”. No trabalho não era mais o mesmo: passou de exemplo a mau-exemplo. Abriu mão de todas as tradições portuguesas que lhe davam o ar de saudoso emigrante para absorver os costumes brasileiros, as refeições, as músicas, as danças… tudo tendo se iniciado com a paixão pela mulher brasileira.
Nesse jogo Piedade, sua mulher, levou a pior: por mais que seguisse sempre os gostos de seu marido, não se sentia à vontade na nova terra. Após algum tempo Jerônimo não lhe dava mais atenção, não à procurava na cama e até a repelia.
Jerônimo avançava cada vez mais para Rita Baiana, mantendo sempre contato. Numa de suas conversas descobriu o que ela fizera para ajudar Leocádia, expulsa tempos antes: arranjou-a numa casa de engomadeiras. E até a benevolência da baiana era motivo para Jerônimo aumentar seu apreço por ela.
Piedade decidiu procurar ajuda: foi até Paula, a Bruxa, tirar sorte nas cartas e buscar receitas para reconquistar seu homem, mas foi tudo em vão. Firmo, amante de Rita, também percebeu o estranho relacionamento dela com Jerônimo e parecia que logo uma intriga estaria armada.
Nessa altura, porém, outra confusão chama a atenção do narrador. Agora era Florinda, filha até então virgem de Marciana, que aprontara e aparecera grávida. Sua mãe descontrolou-se e a atacou violentamente até descobrir o homem responsável pelo ato: Domingos, o caixeiro da venda.
A balbúrdia que já estava formada dirigiu-se, então, para a venda, onde João Romão acabou fazendo papel de juiz, interrogando seu empregado e decretando a punição: Domingos teria de casar-se ou era demitido. João prometeu ainda que, caso Domingos preferisse fugir, ele arcaria com o dote de Florinda, o que acalmou os ânimos de Marciana.
À noite Augusta e Alexandre receberam a visita da comadre Léonie, a cocote que cuidava da filha do casal, Juju. Esta visita também interessava a todos na estalagem já que Leónie vivia de forma diferente de todos ali, na cidade, desfrutando de festas e roupas luxuosas. O fato de ter que vender seu corpo para manter este status não gerava discriminação entre os demais, sendo que as mulheres do cortiço até a invejavam, pois não estava presa a nenhum marido e ainda assim tinha boa vida.
Juju também vestia-se de maneira diferenciada, sendo admirada por todos. Pombinha, garota mais educada do lugar, também se interessava por essa vida e era amiga de Léonie, que chamou-lhe, ela e sua mãe, para jantar um dia em sua casa.