Capítulo 2
Por dois anos o cortiço avançou, cresceu e se lotou de gente. Miranda cada vez mais invejava João Romão: sem nunca botar um paletó e vivendo com uma negra conseguira mais riqueza que ele, que se casara por interesse e precisava manter o triste relacionamento para não perder seus bens. Vendo que jamais alcançaria João Romão no quesito financeiro, Miranda resolveu buscar outra forma de sobrepujá-lo: comprar o título de Barão.
Na mesma época Henrique, com 15 anos, filho de um fazendeiro cliente de Miranda, veio instalar-se junto a ele. Na casa já moravam, além de Miranda, Dona Estela e Zulmira, então com 12 anos, três criados: Isaura, uma jovem mulata, Leonor, uma negrinha virgem, e Valentim, um moleque filho de escrava que Dona Estela havia alforriado e que muito estimava, causando até ciúmes em sua filha. Havia ainda Botelho, que fora funcionário de Miranda, mas agora já não prestava para nada nem tinha família: era um velho amargurado amante do militarismo.
Constantemente, entre as diversas brigas de Miranda e Dona Estela, Botelho servia de amigo e conselheiro de ambos, separadamente, mas nunca contando segredos de um ao outro: precisava agradar aos que lhe davam o teto. Certo dia encontrou Dona Estela no jardim se agarrando ao jovem Henrique. Alertou, então, para que tivessem mais cuidado e jurou que não contaria nada ao dono da casa. No entanto, em seguida, ao falar a sós com Henrique, deu entender que esse silêncio não seria gratuito: acariciava-o constantemente e elogiava sua beleza… era um velho pederasta.