Capítulo 3
No primeiro dia na “natação”, como era chamado o banheiro no qual havia um tanque em que os garotos lavavam-se juntos, Sérgio foi puxado pelos tornozelos e quase se afogou, sendo “salvo” por Sanches, um rapaz cuja fisionomia a princípio o havia repugnado, mas que desde então se tornou seu companheiro constante. Mais tarde haveria motivos para acreditar que havia sido o mesmo Sanches que lhe derrubara.
Sanches era um dos garotos escolhidos, por ordem aristocrática, como “vigilante”, responsável por averiguar a conduta de seus companheiros, auxiliando na manutenção da ordem do internato. Sua companhia, portanto, trazia benefícios a Sérgio, que também teve seu apoio na introdução às diversas matérias escolares. Por conta disso e de um incômodo mau hálito, Rebelo fora deixado de lado pelo calouro.
Após meses de contato direto com Sanches, reavivou-se em Sérgio a impressão inicial que tinha em relação ao colega: o hábito de Sanches manter um contato físico intenso quando estavam juntos já era desagradável, mas revelou-se constrangedor quando o menino fez uma proposta de maior intimidade a Sérgio, que riu e abismou-se da ideia.
A relação entre os amigos perdurou por algum tempo, com Sanches apresentando a Sérgio um novo mundo de conceitos e palavras que desafiavam conceitos religiosos mais tradicionais. Certa vez, porém, o veterano voltou a se colocar como pretendente de uma relação mais íntima, causando extrema repulsa em Sérgio, que se afastou definitivamente do preceptor.
Para compensar o vazio deixado pelo fim da primeira amizade, Sérgio apegou-se às aulas de astronomia, ministradas pelo próprio Aristarco.