Capítulo 1
O narrador relata momento de sua vida em que entra no internato “Ateneu”, um dos mais famosos da época, comandado pelo famoso pedagogo Dr. Aristarco Argolo de Ramos, autor de inúmeros livros didáticos que eram distribuídos pelos colégios públicos de todo o império.
Essa passagem marcaria o fim das ilusões infantis, alimentadas pelo ambiente doméstico cercado de amor, e o encontro com “o mundo”. Aos onze anos, Sérgio experimentara alguns meses uma escola familiar, da qual se lembra somente do lanche servido ao meio-dia e das características de alguns colegas, e também tivera aulas em domicílio. A vida no internato era encarada como uma evolução, sua transformação em “homem”.
Antes de ser matriculado no Ateneu, Sérgio visitara a instituição algumas vezes. Numa delas, uma festa de encerramento de trabalhos, houve a presença do ministro do império e um inflamado discurso do professor Venâncio, que exaltava Aristarco como uma criatura inferior somente a Deus. Outra ocasião fora a festa de educação física, na qual houve grandes demonstrações da força física e da desenvolvida habilidade motora dos internos.
A ocasião da matrícula de Sérgio se deu na própria casa de Aristarco, cuja figura mais humana causou uma impressão conflitante com a imagem de superioridade que havia sido alimentada até então. O pedagogo censurou os cachinhos de cabelo do futuro estudante, informando que seria necessário cortá-los. Sua esposa, Dona Ema, agradou ao garoto, comentando que poderia entregar os cabelos à sua mãe. Aristarco estendia com autoridade sua narrativa que unia seu passado ilustre, responsável pela formação de jovens que se tornaram influentes no Estado, e sua visão de futuro que contava com reformulações educacionais que transformariam a sociedade.