
Capítulo 3
Após muito se ocupar com as diversões que a corte proporcionava, Paulo viu-se desocupado e decidiu, enfim, visitar Lúcia.
Ele a havia visto algumas vezes desde a festa da Glória: numa perfumaria – quando Lúcia recusara a essência de flor de laranja, dizendo ser algo muito pura para ela; outra vez no teatro, quando Paulo percebeu que ela dirigia seus binóculos a ele.
Visitando-a, puseram-se a conversar sobre futilidades. O que ele enxergava nela, em sua expressão pura, contrastava com o que ouvira de seu amigo Sá. Houve um momento em que o roupão azul que ela vestia abriu-se levemente, e ela logo o fechou, tomada de vergonha.
Entre os diversos assuntos que conversaram, houve em comum o fato de que ambos haviam estado em Pernambuco – Paulo vivera por lá, e Lúcia havia passado por lá, em sua viagem de volta da Europa. Ambos traziam boas memórias da vida mais calma, entre as árvores e casas de família. Nesse ponto a moça revelou sua tristeza por ter se tornado órfã muito cedo e não conservar família alguma.
Após tanta conversa, Paulo despediu-se sem qualquer insinuação indecorosa. Lúcia pediu que ele retornasse no dia seguinte, argumentando que sua conversa a agradara.
Mais tarde, encontrando-se com Dr. Sá, Paulo insistiu em saber se Lúcia seria realmente o tipo de mulher a que ele se referia na festa da Glória. Sá reafirmou que ela apenas esperava que ele lhe abrisse a carteira, lhe desse algumas joias, sem a necessidade de qualquer cortejo. Era uma boa companhia para uma noite, ou mesmo alguns dias de farra.
Por fim, Sá convidou Paulo para passar o sábado à noite em sua residência, com um sorriso obsceno, fazendo-o entender que Lúcia também seria sua convidada.