
Capítulo 2
Dias após sua primeira vinda ao Rio de Janeiro, em 1855, o autor relata que foi convidado por um colega, Dr. Sá, à festa da Glória, uma comemoração de cunho religioso, onde se reuniam todas as variedades étnicas e sociais da corte.
Entre tantas pessoas, chamou-lhe a atenção uma moça muito bela que admirava as nuvens e o céu estrelado. Tinha a impressão de tê-la visto antes, mas não sabia de onde. Perguntando ao Sá quem era a garota, ele, discretamente, deixou claro que tratava-se de uma cortesã – uma prostituta – chamada Lúcia.
Chamando-a, Sá apresentou-a a Paulo (nosso narrador) e perguntou se ela estaria livre naquela noite, ao que ela respondeu que preferia permanecer sozinha, e dirigiu-se à igreja. Sá estranhou tal comportamento, que não era habitual, enquanto Paulo percebeu algo de especial naquela moça, uma beleza pura, que ia além do fato de ela ser uma meretriz.
Mais tarde, o narrador lembrou-se de onde a reconhecera: no mesmo dia de sua chegada ao Rio a vira em um carro elegante, carregando um leque à mão. Não se conteve e comentou sobre a beleza daquela garota, não somente a visual, mas também a que teria a pureza de sua alma. Por conta do trânsito seu carro parou no mesmo momento, permitindo que ela ouvisse o elogio e respondesse com um sorriso. Quando o carro voltou a andar, o leque da garota caiu ao chão, e Paulo o recolheu e lhe devolveu, permitindo-se tocar levemente os dedos da menina, que desta vez lhe respondeu com um sorriso melancólico. Paulo concluiu que a garota era triste, e um colega seu apenas considerou que ela faria feliz o homem a quem amasse.
O autor sentia-se de alguma forma enganado, por ver tanta pureza na face de alguém que nunca seria vista dessa forma pela sociedade.