2 - O viajante
Em um dia claro do inverno de 1860 se um viajante solitário pelo sertão, montado numa besta, vindo da Vila de Sant’Ana do Parnaíba rumo aos campos de Camapuã. Com vinte e cinco anos, de aparência agradável e ar inteligente, ele caminha distraído e pensativo, às vezes cantarolando uma canção.
Um senhor mais velho, gordo, alcança o viajante solitário para iniciar uma conversa. Nascido em Minas Gerais, diz ter andado por toda a parte antes de estabelecer-se naquela região, onde possui uma humilde tapera. Convida-o, portanto, para que pernoite em sua casa, que fica na mesma direção que seguem.
Após aceito o convite de hospitalidade, ambos se apresentam. O velho se chama Martinho dos Santos Pereira: viveu com uma mulher em Diamantina, mas ficou viúvo; mudou-se para Piumi, depois para Uberaba; seus negócios não iam bem e decidiu exilar-se no meio do mato, onde vive muito satisfeito há doze anos, sem fartura nem necessidades. O viajante é Cirino Ferreira Campos, nascido no interior de São Paulo e criado em Ouro Preto, onde estudou farmácia: desde então viaja pelos sertões carregado de remédios e disposto a curar doenças.
Martinho comemora o encontro: ele tem uma filha doente e fora à Vila de Sant’Ana justamente para comprar quina (uma planta medicinal) a qual não encontrou. Cirino afirma possuir o medicamento em sua bagagem e indaga sobre a existência de mais doentes na região, aos quais ele possa curar.
Após mais alguma conversa Martinho percebe certa tristeza na feição de Cirino, que revela estar preocupado com uma dívida de jogo a qual contraiu em Sant’Ana. O rapaz relata que foi a primeira vez que apostou em cartas e o velho orienta que ele aprenda com a lição e nunca mais se envolva com jogos.
Após saírem da estrada principal e cruzarem um ribeirão, a dupla chega ao sítio de Martinho.