16 - O administrador interino
Pádua trabalhava numa repartição do Ministério da Guerra, não ganhava muito, mas também não tinha muitos gastos. A casa em que moravam, menor que a de Bentinho, foi comprada com o dinheiro de um bilhete de loteria premiado. Ele teria chegado a pensar em gastar a fortuna em excentricidades, mas sua mulher, Dona Fortunata, e a mãe de Bento, Dona Glória, o convenceram de comprar uma moradia.
Antes disso Dona Glória já havia sido importante para Pádua e sua família. Certa ocasião Pádua havia substituído interinamente (temporariamente) o administrador da repartição por mais de vinte meses, recebendo maiores honorários. Nesse período ostentou riqueza em roupas novas e passeios caros. Com a volta do administrador, ele caiu em ruína, dizia que iria se matar, que não poderia viver com a queda de padrão de riqueza. Por fim Dona Glória o convenceu que devia “ser homem” e levantar a cabeça.
Após algum tempo a ferida de Pádua pela perda do cargo se cicatrizou, ele até lembrava-se daqueles tempos com certo orgulho. O Padre Cabral citava uma passagem bíblica que caberia bem a Pádua, dita por Elifás a Jó: “a correção do Senhor fere e também cura”.