
Sete Mulheres - V
Cibrão, um amigo de Silvestre, pediu-lhe que escrevesse cartas em francês para uma modista francesa que conhecera. Após algumas correspondências foi marcado um encontro, do qual Silvestre teria que participar como intérprete. Apesar da possibilidade de a cena tornar-se ridícula, e de pensar que seria melhor um encontro em que não fosse necessário falar nada, Silvestre aceitou ajudar seu amigo.
No encontro num parque, Cibrão apenas arranhou um “eu te amo” em francês e levou sua modista para atrás das plantas para se comunicarem na língua do amor. Enquanto isso Silvestre ficou acompanhado de outra francesa, a quem, inicialmente, lançou galanteios.
A mulher relatou sua vida sofrida: era uma jovem de boa família em Paris, mas fora raptada e depois abandonada por um duque. Fugiu da cidade e acabou conhecendo a modista francesa em Lisboa, com quem tem trabalhado desde então. Essa história trágica cativou Silvestre profundamente, que chegou a considerar tal mulher uma santa, imaginando ser possível publicar um romance sobre ela.
Certa tarde Silvestre encontrou as francesas e notou o comentário de um grupo de homens que estava próximo: eles diziam conhecer aquelas mulheres de muitos anos antes, quando elas dançavam cancã e ficavam com diversos rapazes, e zombavam de que agora ela estava a enganar certo homem, dizendo ter sido uma garota de Paris que sofreu uma história triste de abandono.
Incrédulo, Silvestre foi falar com Cibrão, que confirmou a versão dos tais homens: a francesa com quem ele ficara havia lhe revelado que a amiga inventou um passado para conquistar o coração romântico de Silvestre, e ele somente não lhe contou tal farsa imaginando que seria melhor manter sua ilusão.
Silvestre esteve fora de Lisboa por um tempo e, quando retornou, soube que sua “santa” francesa estava vivendo com um italiano, tenor de uma companhia lírica. Ao encontrá-los, Silvestre resolveu tirar satisfações: perguntou-lhe sobre seu duque e pediu que ela dançasse cancã para ele. O italiano levantou-se, Silvestre foi embora. Esta foi a sétima mulher.