Sete Mulheres - II
A segunda mulher que amou também era sua vizinha. Como Silvestre vivia em uma esquina, podia mudar de amores de uma janela à outra, sem que suas amadas desconfiassem de tal variação.
O romance se deu com trocas de olhares por meio das persianas da casa da jovem, a qual ele nem soube o nome. Enviou-lhe cartas e poesias, que foram correspondidas com apreço. Após adoecer por onze dias, soube que fora procurado por um galego da tal casa e nunca mais abriu a janela por onde se comunicava com sua segunda amada.
Silvestre soube depois a história daquela mulher: apaixonada por um conde de Lisboa, fugiu da casa dos pais e viveu sustentada por seu amante, que casou-se com outra. Tentou retornar à família, mas não teve perdão dos familiares.
O terceiro amor de silvestre era uma quarentona que frequentava a hospedagem em que estava Silvestre. D. Catarina, ótima dançarina e conversadora, declarou-se a ele e enviou-lhe algumas cartas, nas quais listava suas posses – inclusive uma dezena de burrinhos em Cacilhas, que lhe davam renda.
Silvestre falava-lhe mais sobre os fatos do coração e foi visitar a janela de seu quarto certa noite, quando foi surpreendido pelo irmão possessivo de Catarina, que o recebeu com espada em punho. Após sua fuga a mulher lhe enviou uma carta em que exigia um casamento, visto que ficaria mal falada, mas Silvestre recusou a oferta.
Cinco anos depois se soube que D. Catarina foi ao Pará com seu irmão, após herdarem alguns contos de um tio. Ela havia comprado um palácio em Benfica, que ordenara reformar. Silvestre perguntou sobre os burrinhos de Cacilhas ao homem que lhe contou tais fatos, e ele respondeu que poderia encontrá-los no Ministério e no Parlamento.