Docas
Pedro Bala, Boa-Vida e Pirulito esperavam o retorno do saveiro do capoeirista Querido-de-Deus, que estava numa pescaria. Andando pelas docas, Pedro Bala confidenciava a Boa-Vida que gostaria de trabalhar em navios, enquanto Boa-Vida não queria deixar a cidade – onde tinha uma vida de malandro garantida.
João de Adão, velho estivador negro conhecido por sua participação em greves, chamou os dois garotos para conversar. Havia num canto uma negra velha, Luisa, vendendo cocadas e laranjas, com quem Boa-Vida brincou, avaliando seus peitos.
Durante a conversa eles lembravam-se das primeiras greves, lideradas por Raimundo, “Loiro”, pai de Pedro Bala, que de sua família pouco sabia. João de Adão prometeu ao garoto que, quando ele quisesse, teria trabalho garantido nas docas, em memória de seu pai, que havia morrido lutando pelo direito dos estivadores. O menino se orgulhava em saber que seu pai havia deixado uma história. Luisa lembrou-se também da mãe de Pedro Bala, uma mulher da cidade alta (rica), fugida de sua casa com Raimundo, morreu quando ele tinha menos de seis meses.
Chegou um navio e todos os estivadores começaram a trabalhar. Pedro Bala observava a movimentação e se imaginava liderando greves, como seu pai. Luisa observou que Pedro parecia-se muito com Raimundo. Em instantes chegou Querido-de-Deus, que logo vendeu sua pescaria.
Após o jantar, Pirulito foi encontrar Padre Pedro. Os demais foram ao terreiro de candomblé, onde surgiu o orixá Omolu, cantando sobre a miséria dos pobres, prometendo que mais cedo ou mais tarde ela teria um fim.
Pedro Bala voltava sozinho ao areal, pensando em seu pai, nas greves, na mensagem de Omolu, até que cruzou seu caminho uma negrinha jovem, que despertou um desejo no chefe dos Capitães da Areia. Pedro a perseguiu, até alcançá-la, tentando abrir suas pernas e enfrentando resistência da menina, que se dizia donzela. O garoto propôs que só entrasse “por trás”, para preservar sua virgindade, o que foi aceito. No entanto o menino precipitou-se e quase tirou a honra da garota, que quis escapar. Por fim, Pedro acompanhou a menina, de mãos dadas, para defendê-la de outros marginais, e pediu que ela voltasse outras vezes.
A garota chorava. Quando se distanciou de Pedro Bala, ela rogou pragas ao menino. Ele seguiu pelas areias da praia sentindo desespero por sua realidade, sentindo raiva da cidade rica, e sentindo pena da menina que, afinal de contas, também era apenas uma criança, como ele.