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Resumo Por Capítulo: Angústia

Capítulo 23


Luís passava as noites sentado na calçada sob a companhia de seu Ramalho – desde que sua filha havia se aproximado de Julião Tavares o velho passara a simpatizar mais com o vizinho, de maneira oposta à de sua mulher, que tratava Luís com profundo desprezo. O pai de Marina aconselhava o narrador a evitar o casamento: “é buraco”, ele dizia.


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Os dois homens trocavam impressões de como no passado ainda havia alguma decência nas relações amorosas e elegiam as modernidades culturais como grandes vilãs da tragédia romântica: o cinema, com suas exibições de promiscuidade, e a falta de religiosidade deveriam ser os responsáveis pela safadeza que tomava conta da mente das jovens modernas.


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As noites prosseguiam com seu Ramalho contando e recontando casos incertos de seu passado – o velho não tinha um repertório muito extenso e se perdia em detalhes que ganhavam nova roupagem a cada narração. Lembrava-se de um moleque que teria se metido com a filha do senhor de engenho e como punição tivera que engolir os próprios testículos, arrancados à faca. Também revelava o espanto que sentia com a própria sorte, como quando pela primeira vez tomara um trem com a família, migrando para a cidade: justamente naquele dia o trem descarrilara, deixando-os abandonados no meio do campo durante a fria noite. Marina, dez anos depois dessa fatídica viagem, enfrentaria um severo sarampo, que quase a levara: “Antes tivesse batido, que era inocente e não dava desgosto a ninguém”, lamentava seu Ramalho a sobrevivência da própria filha.


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Quando menos se esperava, o vizinho de Luís voltava a detalhar a tortura sofrida pelo moleque do engenho e o narrador parecia enxergar a figura do corpo ensanguentado, estirado na rua de paralelepípedo, bem à sua frente. O velho saíra para o trabalho, transeuntes cruzavam a rua e Luís ainda era hipnotizado pela imagem do menino torturado. Depois, voltava a pensar em Marina e logo em seguida tentava afastar estes pensamentos: deveria concentrar-se em quitar suas dívidas e seguir com a vida. Andava pela cidade embriagado por doses de conhaque.


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Recentemente uma companhia lírica havia chegado à cidade e cartazes de propaganda espalhavam-se pelos cafés, despertando em Luís nada mais que desprezo. No dia da estreia, entretanto, chamou-lhe a atenção um movimento atípico na casa vizinha: chegaram encomendas de vestidos, um cabeleireiro fez uma visita e à noite Marina, toda enfeitada, embarcou em uma limusine na companhia de Julião Tavares. Esta cena se repetiu por cinco dias seguidos.


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Atormentado pelo sucesso de seu rival, Luís tentava distrair-se ao caminhar longamente pela cidade, mas o ronco de qualquer motor de automóvel ou mesmo a transmissão da ópera em qualquer rádio nunca permitia que ele distanciasse seus pensamentos de sua tragédia amorosa.


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Ele dirigia-se ao subúrbio e entrava em bodegas miseráveis, mas sentia-se deslocado: os vagabundos que frequentavam os estabelecimentos o olhavam com desconfiança e ele mesmo sabia que suas palavras, seu repertorio, o colocavam numa posição muito distante da realidade do local – esta realidade ele só conhecia pelas páginas dos livros, e na mesma perspectiva ele observava os “personagens” que ali se apresentavam: trabalhadores aproveitando o tempo de lazer, um músico embalando canções em um violão, crianças brincando na rua, um valentão contando suas aventuras sob as frias gargalhadas das mulheres… Com tudo Luís se identificava, ao mesmo tempo em que se afastava, absorto em lembranças pálidas de sua própria vida, percebendo-se sempre como uma figura deslocada da realidade que o cercava. Subitamente, tudo se tornava insuportável e ele se levantava e ia embora.


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