Capítulo 8
Luís relata ter vivido em inúmeros “chiqueiros” que podem ter influenciado em seu caráter. A sua casa atual, na Rua do Macena, é um imóvel velho que Doutor Gouveia lhe aluga por cento e vinte mil-réis. A maior parte de seu tempo é passada no quintal, sob a mangueira, a ler livros, com vista para a casa vizinha à esquerda, também muito feia e pobre, onde conheceu Marina. A casa à direita é separada por um muro, o que evita maiores contatos com Dona Rosália, uma mulher antipática e faladora que vive quase sempre na ausência de seu marido.
Os olhares, sorrisos e acenos trocados com Marina no quintal logo desencadearam uma amizade. Os diálogos, segundo o narrador, eram vazios por conta da inépcia da garota em conectar quaisquer ideias: seus pensamentos se limitavam a avaliações de moda e estilo das pessoas da cidade. Às vezes, caçando assunto, Marina indagava sobre o livro que Luís lia, mas ele repelia qualquer tentativa de diálogo mais profundo – ele a considerava, basicamente, “estúpida”.
Ao voltar para dentro de casa o narrador encontrava Vitória resmungando com o papagaio sobre a “franguinha assanhada” que puxava conversa com seu patrão, como se ele não estivesse presente. Para se distrair Luís acendia um cigarro, bebia aguardente, ouvia os grilos e olhava a rua… Evitava olhar para a casa da direita, imaginando que Marina ainda pudesse estar à espreita: acreditava que a moça, com toda sua frivolidade, só poderia acabar na Rua da Lama – tradicional reduto de prostituição em Maceió.