Capítulo 28
Após alguns dias, como costume, Luís estava em seu banheiro, nu, fumando e pensando em realizações literárias inexistentes. Havia épocas em que passava horas, todas as manhãs, a sonhar com livros que o deixariam famoso. Durante esses períodos era comum sair de casa avoado e responder com tolices aos colegas de trabalho.
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Nesta manhã uma formiga o distraiu de seus sonhos literários: ele brincava de cercar o inseto com água e lembrava-se do que aprendera sobre estes seres em almanaques. Do outro lado da parede vêm os ruídos do banheiro da família vizinha: ele consegue distinguir seu Ramalho, que chega tossindo e mal se esfrega ao tomar banho; depois vem D. Adélia, que canta baixinho enquanto se lava; e por último Marina, que geralmente fazia muito barulho, arrancando as roupas, falando alto, se ensaboando e mijando – gerando sons que excitavam a imaginação de Luís. Desta vez, porém, Marina estava quieta e misteriosa.
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Luís ouve Marina cuspir e lamentar-se “Virgem Nossa Senhora!”. Ele imagina que a visão que tivera outro dia, na rua, estava se confirmando. Tinha vontade de oferecer ajuda, de perseguir Julião Tavares. “Que vai ser de mim, santo Deus?”, a jovem continuava a queixar. O narrador visualiza mentalmente sua antiga companheira nua, aos prantos, observando a barriga crescer e os peitos incharem.
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D. Adélia bate à porta do banheiro, chama pela filha e, ao entrar, questiona o que havia de errado. A moça se descontrola, lamenta seu estado, xinga a si mesmo: “Arrombada”. A mãe se desespera, pede respeito, roga aos santos.
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Ouvindo tudo isso, Luís também chora e sente compaixão por aquelas mulheres: tem vontade de ter com elas e dizer-lhes que elas não têm culpa de nada daquilo.
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